Patagônia Selvagem - Campo de Geologia pelos fjords de Magalhães

Esse post foi escrito parcialmente na época em que eu voltava da minha primeira jornada no Chile, após 3 meses entre a Patagônia e Santiago, e parcialmente agora quando ele foi publicado, quase 3 anos depois.

Aqui me dedico a contar a minha primeira e mais curiosa experiência de campo de Geologia na Patagônia em novembro de 2017 na região do Estreito de Magalhães e Senos Skyring e Otway, onde coletei os dados para meu mestrado sobre o fechamento da Bacia de Rochas Verdes (trabalhos publicados no Research Gate https://www.researchgate.net/profile/Veleda_Muller).

Último dia a bordo do Marypaz II, na região do Seno Skyring (~52°S): Julie Fosdick, Matias Ghiglione, Cristobal Ramírez de Arellano, Mauricio Calderón, Diego Rojo, Andrea Stevens Goddard, Fernanda Torres, Veleda Muller.


Foram 12 dias a bordo do Marypaz II, um barco a diesel pequeno com espaço limitado para as 12 pessoas embarcadas, 8 pesquisadores geólogos e 4 tripulantes (capitão, subcapitão, maquinista e cozinheiro). Os sentimentos foram os mais diversos, da mais intensa euforia à momentos ultramelancólicos, mas essa é a beleza de lugares inóspitos como esse. O Estreito de Magalhães não é turístico, e assim deve permanecer, preservando sua natureza particular e profundidade. 

O trajeto teve como partida Puetro Hambre, uma vila com um porto na beira do Estreito de Magalhães, que une e Oceano Pacífico ao Oceano Atlântico. Seguimos no Estreito pelo Pacífico em direção oeste. Passamos pela Isla Carlos III, e em seguida adentramos o Seno Otway pelo Canal Jerônimo, margeando a Isla Riesco. Passamos cerca de uma semana nos domínios do Seno Otway e depois cruzamos para o Seno Skyring pela região de Entre Ventos. No Seno Skyring passamos mais uma semana, terminando na zona mais estreita do Canal Gajardo, onde a navegação se tornou arriscada pelos fortes ventos e as altas paredes rochosas que fechavam o fjord, havia até redemoinhos de água se formando e a melhor solução foi evitar essa passagem e voltar ao continente pelo mesmo caminho que viemos.  Exploramos as latitudes 52 a 54°S, o lado leste é constituído de terras planas da Bacia de foreland de Magalhães, e o lado oeste é de fjords escarpados e cobertos por glaciares, que são a Bacia de Rochas Verdes deformada, o Batolito da Patagônia Sul e os complexos metamórficos pré-Jurássicos.

Região do trabalho de campo na região do Seno Otway e Seno Skyring.
Cheguei assim como todos os integrantes da equipe muito eufórica, foi uma sensação única sentir aquele vento frio em um local verdadeiramente longínquo e selvagem, com poucas evidências humanas e uma natureza exuberante. Muitas coisas me surpreenderam em diversos sentidos.

Primeiros dias de campo na região do Estreito de Magalhães.
Primeiramente a embarcação, que na minha opinião era bastante rústica. Havia uma pequena sala de estar onde se faziam as refeições, junto a uma pequena cozinha, tudo isso devia dar uns 10 m², atrás de um pequeno convés. Havia também uma parte coberta atrás, com algumas cadeiras, e o espaço externo, que era de poucos metros a mais, ainda era possível subir na parte de cima, o que foi um dos espaços mais utilizados, o problema ali era aguentar o frio e vento. 


Sala de estar e refeições, equipe de geólogos.


Objetos de navegação no convés do Marypaz II, capitão Hugo pilotava.


Parte externa do barco.






































Eu e minha grande amiga Feña (Fernanda Torres) na parte superior do barco.
Típica visão patagônica na parte superior do barco.

O mais estranho e claustrofóbico eram os quartos, apelidados por nós de catacumbas, era na parte de baixo do barco, se entrava por um alçapão (no qual eu levei uma queda nas primeiras horas embarcada), e era constituído de beliches muito estreitos. Surpreendentemente havia certa separação entre o espaço feminino e o masculino, já que estávamos em número proporcional e os "quartos" tinham 4 camas. A luz era um foquinho incandescente em cada cama. Este também foi um espaço muito utilizado, já que quando o barco navegava o enjôo era muito forte e só restava ficar deitado sentindo as fortíssimas oscilações cíclicas do barco, de um lado para o outro, e de frente para trás, eventualmente girando. Bem agoniante e meio desesperador, em geral navegávamos bastante de manhã, quando os ventos eram mais promissores. A tarde era reservada a acessar os locais de interesse geológico, porém, havia dias em que as condições climáticas eram tão ruins que ficávamos o dia inteiro ancorados. A ancoragem era sempre em algum espaço embainhado e protegido do vento em meio a vegetação. E foi nesses momentos que e senti a monotonia do mar.

Eu nas catacumbas.

Já no primeiro dias tivemos um show da natureza patagônica, com golfinhos nadando junto com nós e fazendo acrobacias ao nos acompanhar. Foi um momento mágico e digno de filme, a paisagem eram as montanhas escarpadas que caiam no mar, e a atmosfera era o gélido vento que nos envolvia constantemente. Fomos a la playa, e já encontramos alguns estratos vulcânicos estranhos. 

Golfinhos nadando e se exibindo ao nosso lado.
Primeira parada, uma prainha vulcânica.

Paisagens do Estreito de Magalhães e nosso bote de acesso ao Marypaz. 

Rochas vulcânicas no Estreito de Magalhães.
Ao longo da primeira semana navegando pelo Estreito de Magalhães e Seno Otway comecei a entender um pouco da vida marítima, e digamos que fui surpreendida pelos maus efeitos do isolamento. Lá sim eu senti o que era o mal do mar. Um enjôo terrível em alguns momentos do dia, um confinamento bastante irritante, sem muito movimento durante o dia, o exterior é frio e chove muito, então basicamente ficávamos na monotonia do interior do barco, tentando arranjar distrações que na maioria das vezes eram comer e beber. Ao contrário da rotina de ultra aventura que eu esperava, encontrei uma rotina de muitas vezes ficar isolada no mesmo local um dia inteiro. Porém, entendi que na verdade a vida no mar voraz é assim, especialmente com barcos pequenos que sempre devem estar juntos à costa (navegação de cabotagem), caso contrário, é muito fácil perder-se na selvageria dos ventos e correntes do sul. Especialmente porque quando as aventuras acontecem, elas são verdadeiramente intensas, e vivemos algumas. 
Eu gostava bastante de ficar na parte externa quando era possível, ainda que sofrendo um pouco com o vento frio. Eram momentos introspectivos vislumbrando uma natureza que eu jamais havia visto e sentido antes. Era realmente inóspito, os habitantes eram seres raros e pouco conhecidos, as cores variavam nos tons de azul, verde e cinza, a umidade era constante, fungos, musgos e tundra dominavam, as árvores e arbustos eram baixos e retorcidos, paredes rochosas escarpadas apareciam ao longe, as mais altas nevadas, e tudo aquilo nos fascinava e transcendia. Uma vontade intensa de se transportar para aquelas terras virgens e sentir a liberdade de ter os pés na terra e uma imensidão para explorar.

Eu a bordo do Marypaz II com montanha desconhecida ao fundo. Rosto meio desgastado e inchado, frio e excesso de calorias após dias de confinamento... 
Vegetação retorcida e cores verdes, azuis e cinzas que dominavam a paisagem.
Montanhas escarpadas ao fundo de um dos pontos de ancoragem, ambiente místico.
Montanhas desconhecidas e com muita neve, Seno Skyring. 
Natureza pura de uma manhã na região de foreland na Bacia de Magalhães.
Uma das montanhas mais belas que já vizualizei, nome desconhecido, Seno Skyring.  
Montanhas após uma manhã em que nevou, no Seno Otway. 
As coletas de rocha eram feitas com o Zodiac, o bote de borracha laranja que fazia o intermediário entre o Marypaz II e as ilhas e falésias banhadas pelo pacífico. Essa parte geralmente era emocionante, já que o embarcar e desembarcar do bote era sempre meio estranho, a rocha era lisa, tinhamos que ir de galocha para evitar molhar o pé, o que nem sempre era evitável, e as vezes era bastante congelante, colete salva-vidas sempre, as vezes havia muito vento causando ondas, e muitas vezes chuva, deixando a experiência no mínimo desconfortável. Nos afloramentos o trabalho tinha que ser feito rapidamente, ninguém aguentava muito tempo nas más condições climáticas, além de que o tempo era curto para o quanto devíamos viajar diariamente. Uma parte da equipe se ocupava das coletas de rocha com martelo e marreta, enquanto eu tomava medidas estruturais e observações, por sorte ganhei uma caderneta impermeável do Mauricio, se não teria sido bem mais sofrido anotar qualquer coisa. A parte da estrutural não foi muito otimizada, já que eu estava com uma bússola Brunton antiga do departamento de Geologia da UFPR, e geólogos devem entender a maldição que é tomar uma medida em estilo old school sob chuva, frio e ainda sozinha... 

Clássico afloramento na região, pequenas ilhas ou pedaços de continente onde se tinha acesso às rochas de barco. 

Equipe a bordo do Zodiac.
Acesso ao afloramento com o Zodiac. Rochas máficas vulcânicas.
Um belo afloramento de rochas verdes. 

Eu descrevendo os metatufos da Formação Tobífera, um clássico da Geologia Patagônica.
Um exemplo de coletas sob chuva, foi bem difícil tomar fotos decentes do afloramento.
Companheiros numa das ilhas acessadas, vegetação de tundra da Patagônia.

Dentre as aventuras, uma delas foi para coletar amostras de uma ilha vulcânica lindíssima mas um pouco distante. Nesse dia o mar estava muito violento, ondas enormes, e o capitão foi levar quatro pessoas da equipe para a ilha com o Zodiac. Enquanto isso, o barco ficou a comando do maquinista, que acabou se distanciando do bote, além de estar navegando paralelo as ondas. Eu que fiquei no barco e já fiquei com bastante medo, até vesti o colete porque as oscilações eram realmente fortíssimas. Foi mais ou menos 1h30 de tensão, já que cada vez mais nos distanciávamos dos outros naquelas péssimas condições. Ao fim eles conseguiram retornar até nós, mas contaram que para descer na ilha tiveram que saltar do barco para as rochas aproveitando os momentos em que as ondas os levavam mais para perto da terra. Foi um alívio para todos quando o capitão voltou ao comando! 

Companheiros indo amostrar a ilha ao fundo, uma soleira enorme e muito bonita.
A segunda semana iniciou com o primeiro banho frio para renovar nossos ânimos. E realmente foi uma semana de renovação. Passamos do Seno Otway ao Seno Skyring e o tempo melhorou totalmente. Passamos então a ver uma Patagônia mais colorida e cheia de vida, incluindo cavalos selvagens, martim pescador e leões marinhos. Era possível estar por mais tempo na parte superior do barco, só observando a imensidão passar. As coletas também foram favorecidas, e até passavamos mais tempo nos afloramentos. Um dos destaques para mim foi a Isla Escarpada, uma ilha de puro conglomerado de fundo marinho exumado em enormes falésias arredondadas. A ilha é um sinclinal em meio ao mar, e é muito bonita, nessa hora lembro de ficar na dúvida se estava no mundo real ou num filme ou jogo de RPG, senti uma atração enorme por aquelas rochas que abrigavam centenas de gaivotas. Nessa altura a nossa imersão na paisagem já era bem grande, viamos nas montanhas castelos, torres de sábios magos e de maldosos vilões. Abstrações a parte, sentíamos a natureza na sua pureza e vida intensa, e a sequência de fotos a seguir conta essa história: 


Paisagem do Entre Ventos onde cruzamos do Seno Otway para o Seno Skyring.

Ave Martim Pescador.
Fjords com leões marinhos.
Leões Marinhos
Ilha no Seno Skyring com os cavalos marinhos.
Cavalos marinhos em uma das ilhas no Seno Skyring. 
Pequena ilha com aves que até lembram pinguins, mas acho que eram gaivotas.

Montanha enorme atrás da Isla Escarpada a direita.

Foco na Isla Escarpada a direita.
Isla Escarpada e suas formas místicas.
Isla Escarpada.
Gaivotas sobrevoando a Isla Escarpada.
Linha de gaivotas habitantes da Isla Escarpada.
Sobre os conglomerados da Isla Escarpada.
Feña descrevendo os conglomerados da Ilha Escarpada onde foi possível desembarcar, salmoneira ao fundo.
Isla Escarpada e montanhas que lembravam um castelo ao fundo.
Outra escarpa da Isla Escarpada e montanhas com glaciares e agulhas rochosas ao fundo.
Se aproximando dessa montanha linda com estratos rochosos sub-horizontais aparentes e rica vegetação na base. 
Eu na frente dessa montanha e com o traje de campo de TODOS os dias, incluindo a galocha.

Uma das minhas fotos preferidas com essa montanha impressionante.
Mesma montanha vista ao longe, notar a extensão de gelo na parte central.
Entardecer perto de uma salmoneira no Seno Skyring.
Salmoneira no Seno Skyring, um dos locais de ancoragem.
Entardecer profundo no Seno Skyring.
Amanhecer no Seno Skyring. 

Eu e Feña em um amanhecer de olhos inchados e felizes por estar pisando na terra.
Paz da manhã.
Isla Riesco e sua montanha misteriosa, um vulcão, um pluton, ou nenhum dos dois? 
Marypaz II navegando no Seno Skyring.
Um dos pontos de afloramento e muitas conchas.
Eu em um dos afloramentos que mais gostei, de xistos muito deformados.
Xistos deformados no Seno Skyring.
Mais dos xistos deformados, embasamento pré-Jurássico ou Fm. Zapata?
Punta Rocallosa e seus carbonatos, acima e abaixo. 

Um croqui geológico, não tão bonito mas simpático.
Um dos afloramentos mais bonitos da Formação Tobífera no Canal Gajardo, especial para a Geologia da região.
Ilhota no Canal Gajardo.
Mais uma ilhota do Canal Gajardo. 
Um dos enormes glaciares sobre as montanhas nos fjords do Canal Gajardo, esse foi o último ponto em que chegamos, a partir daí era muito perigoso continuar.  Esse foi o penúltimo dia de viagem, e o nosso último ponto de parada, estivemos um bom tempo aí até decidir se avançavamos ou não pelos fjords, a decisão foi de não seguir após o capitão e alguns integrantes tentarem entrar com o Zodiac e quase não conseguirem voltar devido aos fortes ventos em direção ao Pacífico (contra o caminho de volta), e redemoinhos de água. Havia alguns icebergs nesse fjord, e os bravos no Zodiac coletaram alguns pedaços para gelar o whisky de comemoração de fim do campo! Esse foi um dos lugares mais incríveis que estivemos.  

Glaciar do Canal Gajardo protegendo as montanhas.

Mais alguns glaciares no mesmo local.

Retorno pelo Canal Gajardo.

Montanhas que me fascinaram no caminho de volta ao continente, aparentemente graníticas, e como todas as montanhas graníticas possuía uma estética linda, belíssimas fraturas, glaciais ou estruturais?
Essa que também foi uma das minhas montanhas preferidas, no Canal Gajardo, um dos últimos dias.
Marypaz no Canal Gajardo.

Montanhas graníticas do Seno Skyring, Batolito da Patagônia Sul.

Montanhas desconhecidas e arco íris.
Eu e o Marypaz II num afloramento de xistos muito deformados.
Quanto a parte social, aos poucos nossa noção de sociedade foi tomando mais corpo, e logo eramos um grupo de verdadeiros amigos (Fotos 60 a 64). O melhor eram as conversas profundas e as reflexões sobre a natureza, observando aquele ambiente singular de dia e de noite, jogando gravetos para ver o fitoplancton (nactilucas) brilhar, se questionando se dragões poderiam passar por ali em alguma realidade paralela, e observando o verdadeiro valor da vida naquela realidade distante. A trilha sonora foi incrível, só havia um computador que dominava (e não era o meu) com um setlist limitado, o que permitiu que algumas músicas e grupos marcassem a viagem. Nunca mais escutarei Brujeria, Los Jaivas, Inti Ilimani e The Doors sem me lembrar da Patagonia, e por sinal, que coisa maravilhosa ter conhecido os dois grupos chilenos citados nessa viagem, permitiram verdadeiras viagens astrais. Ter The Doors nesse set, que já era minha banda preferida, foi o ápice, mas ter também Brujeria como trilha sonora constante, foi no mínimo curioso e bem engraçado na minha opinião. Em geral as noites eram regadas a vinho chileno, cerveja Austral, e conversas geológicas. No dia do churrasco a cumbia invadiu o barco e todos dançaram. 

Aproveitando o vento em um dia aprazível, na parte superior do barco.

Dia do assado de cordeiro la pelo dia 8 de viagem, viva a América do Sul com essa festa!

Pesquisadores e Tripulação reunidos no dia de assado. 

Nosso cozinheiro Pachugo preparando o cordeiro. 
Mas enfim, uma hora toda história acaba, e nossa jornada acabou no Canal Gajardo, quando chegamos à sua parte mais estreita. A última noite foi bem terrificante, já que os ventos estavam realmente muito fortes e moveram o barco a noite inteira. Lembro de não conseguir dormir porque o barco fazia muito ruído, parecia que tocava o solo constantemente, de um lado para o outro, e fazia um estrondo rítmico durante a noite inteira. Eu delirava com o momento em que ele ia bater, quebrar e inundar e seria um desespero completo. Mas que não aconteceu. 

Nos últimos momentos eu já queria bastante sair do barco, não via a hora de pisar em terra firme, comer algo diferente da dieta de porcarias e refeições repetitivas do barco, tomar um banho, e sentir um calorzinho em algum quarto confortável. Eu não sou uma pessoa exigente com conforto, e nem meus companheiros nessa viagem. A sintonia inclusive foi incrível, não houve reclamações, todos entraram no clima das duas semanas em um universo paralelo, em que a única realidade era a natureza. Fui feliz e fui triste, foi eufórica e fui melancólica, fui introspectiva e fui expansiva. E não poderia ter sido de outra forma, porque é isso que a Patagônia e o Oceano Pacífico nos proporcionam, um labirinto de emoções que não se vive sempre. É único, e sou e sempre serei muito grata às pessoas que me permitiram embarcar nessa viagem, e às pessoas que participaram dela. Deixo aqui meu muito obrigada, uma vez mais, à essa jornada e esse trabalho lindo que desenvolvemos juntos. E agradeço também ao universo e todos os acasos do tempo, que de alguma forma abriram essa porta e todas as outras que vieram depois. Hasta luego!

Eu e Feña desembarcando do Marypaz II.
Algumas fotos extras: 












Refeições usuais do barco.
Pillow basalts. 
Coquetel com gelo de iceberg patagônico.
  


Reproduções de cavalos selvagens de cada um dos integrantes do barco. 

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