Amigos da montanha, retorno trazendo finalmente alguma aventura além dos limites paranaenses.
Já tive outras experiências fora mas, no blog, essa será a primeira.
A ideia de ir para o Parque Nacional do Itatiaia vinha há algum tempo se arrastando, com o objetivo de subir o Pico das Agulhas Negras, no RJ. Entretanto, ficamos na enrolação típica, ainda mais sem os equipamentos de escalada que são exigidos nessa ascensão.
Entretanto, esse ano apareceu a oportunidade: o bom e velho parceiro de trilha Rodolfo Pfeffer foi convidado para integrar um grupo ao Agulhas Negras com a Miria Caetano, que eu também já tinha caminhado há alguns anos atrás, e então convidou também eu, Vanessa e Patrícia.
Antes terei que apresentar os "Caramujos da Montanha", porque serão referidos aqui várias vezes: eu, Vanessa Ariati, Patrícia Ferreira e Rodolfo Pfeffer. Meio sem querer começamos a caminhar como uma equipe há somente 1 ano e meio, mas parece que somos amigos antigos. A parceria deu muito certo, todos são muito empolgados pra trilha e viagens, e nos apelidamos de caramujos, por sempre carregar nossa casa nas costas, na mochila cargueira, e ir devagar e sempre :)
Todos nós 4 demos um jeito e finalmente embarcamos na Van para o Itatiaia, integrando um grupo de quase 20 pessoas no total.
Iniciamos a viagem na noite do dia 20, quando passamos uma noite em claro no último banco da van, aos solavancos, e dia 21 faríamos a travessia Couto - Prateleiras, antes do Agulhas que seria dia 22.
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Vista para o morro do Couto, 2680 m, RJ. |
O morro do Couto é a 9ª montanha mais alta do Brasil, com seus 2680 m
de altitude, no estado do Rio de Janeiro. A trilha até o cume não
demorou mais que 2h de uma caminhada super tranquila, sem grande
exigência física, mas com uma paisagem bem bonita!!
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Caramujos na base do morro do Couto (esq-dir): Rodolfo, Veleda, Vanessa (a frente) e Patrícia. |
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A formação rochosa é bem diferente das daqui do Paraná, a rocha é um
sienito cinza escuro, formado por solidificação de magma em grande
profundidades, com uma foliação magmática que confere algumas formas
horizontais e inclinadas a rocha, claramente visíveis por algumas fendas
e tetos que formam. Ao contrário dos nossos granitos de mais ou menos
600 milhões de anos, os sienitos do Itatiaia tem cerca de 70 milhões de
anos, relacionados à abertura do Oceano Atlântico. Além disso, as
montanhas por lá são bem pedregosas e expostas, o que imagino que se
deva ao clima um pouco mais seco, com vegetação rasteira, o que se via
de mais alto lá era uma variação da nossa conhecida Caratuva, que as
vezes tinha quase 2 m de altura.
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Trekking morro do Couto. |
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Avistando o cume do Morro do Couto. |
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Quase no cume do morro do Couto |
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Última subida rochosa no morro do Couto. |
No cume, há vários "buracos" na rocha que são as panelas e marmitas
formadas pela ação da água sobre as rochas. Nesse dia o clima estava
variando de nebuloso a aberto, e tivemos muitos momentos de ótima
vista.
No caminho é possível avistar a Serra Fina, mais a
sudoeste, e também o Pico das Agulhas Negras, a leste, com suas formas
pontudas, como se estivesse todo escorrido e diluído.
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Cume do morro do Couto |
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Vista da Serra Fina. |
A partir dali seguiríamos para o morro das Prateleiras, inicialmente, a ideia era ir até a base das prateleiras a 2460 m, mas obviamente não deixaríamos esse cume escapar. Essa caminhada também foi tranquila, sem grandes trechos íngremes, e com uma bela vista de todo o Itatiaia e do Agulhas Negras, e deve ter durado mais umas 3h caminhando num ritmo muito tranquilo, parando muito para fotos e lanches.
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No meio da travessia Couto - Prateleiras |
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O cume das Prateleiras é o mais alto na foto. |
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Caramujos caminhando, Agulhas Negras entre névoa ao fundo. |
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Agulhas Negras quase dando as caras. |
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Sienito foliado no caminho às Prateleiras. |
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Fendas e tetos que se formam na rocha. |
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Agulhas Negras aparecendo. |
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Patrícia e Vanessa com Agulhas Negras ao fundo. |
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Chegando na base das Prateleiras e início da escalaminhada. |
Ao chegar na base, nós os caramujos, mais alguns integrantes do
grupo, decidimos seguir para o cume, mesmo sem cordas. Esse último
trecho das Prateleiras é muito técnico e já é considerado escalada em
rocha. Consiste de um amontoado de enormes blocos de rocha, que
representa em teoria somente 88 m de diferença da base, mas que é muito
mais que isso devido ao caminho cheio de obstáculos. Levamos 1h fazendo a
subida, e indo até que bem rápido, guiados pelo Felipe, um dos
integrantes do nosso grupo, muito ágil e com técnicas de Le Parkour, o
que nos ajudou muito!
Eu que agora estou escalando, notei que usei
várias técnicas de escalada em diedro, pois várias vezes tinha dois
blocos bem próximos e ia mesmo me apoiando dos dois lados e me
impulsionando para cima.
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Chegando nas Prateleiras |
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Base das Prateleiras. |
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Via de escalada e cordas do pessoal fazendo rapel desde o cume das Prateleiras. |
Em alguns trechos, minha baixa estatura me deixava bem insegura, pois necessitava alguns saltos com uma dose de coragem, que não consegui fazer. Os meninos mais altos iam primeiro e depois me ajudavam dando apoio de joelho, mão ou até mesmo segurando a minha perna, passo a passo, para que não caísse. No último salto perigoso, o "pulo do gato" que fica entre duas fendas bem perigosas, não foi diferente, tiveram que segurar minha perna e ir baixando até que eu chegasse ao chão e passasse para o outro lado, e finalmente ao cume.
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O "pulo do gato" nos últimos blocos antes do cume das Prateleiras. |
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Último ponto antes do pulo do gato. |
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Cume das Prateleiras. |
O cume estava incrível, com vista para o Agulhas Negras e Serra Fina,
algumas nuvens, mas que deixaram ainda mais bonito. Achei fantástico,
justo por ter muita rocha, vias de escalada, uma galera fazendo rapel lá
de cima e pela dificuldade também, foi algo que eu nunca tinha feito de
forma tão intensa, pois na Serra do Mar paranaense os trechos de
escalaminhada são bem curtos, e dessa vez foi algo realmente
significante e exigente, física e psicologicamente, o que fez com que as
Prateleiras se tornassem uma montanha única para mim.
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Eu e Rodolfo, Cume das Prateleiras, Agulhas Negras ao fundo. |
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Eu e Felipe com o livro de cume das Prateleiras. |
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Eu e Rodrigo admirando a grandiosidade da Serra da Mantiqueira. |
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Cume das Prateleiras. |
A descida não foi menos exigente, e no final o joelho estava realmente detonado! Ainda foi mais 1h pela estrada até o parque, até encontrarmos a van, as 19h, já bem atrasados.
Foi no total cerca de 10h de caminhada, mas com ótimas vistas e momentos de contemplação de uma nova paisagem, e vivenciando um novo estilo de trekking e escalada.
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Grupo que foi ao cume das Prateleiras, novamente na base. |
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Agulhas Negras ao entardecer, se escondendo novamente. |
Gostaria de deixar o resto da aventura para outro post, mas não teria graça, pois no final não foi possível subir o Pico das Agulhas Negras. Durante a noite que passamos no Camping e Pousada dos Lírios, pela 1h30 começou um chuva forte e constante, que durou até as 10h30 do dia seguinte. As 6h, hora prevista de saída para o Agulhas, não tinha uma alma viva no camping, pois ninguém se aventurou em sair da barraca com tanta água rolando. Pra melhorar, o cachorro do Camping ainda rasgou a barraca da Vanessa de madrugada e espalhou e devorou nossos lanches e louças...
No fim, para o sábado nos restou juntar um pouco do almoço de cada um, e aproveitamos comendo feijoada, polenta, farofa, almôndegas e tomando uma cerveja gelada. De qualquer forma, agora o Agulhas está ainda mais engasgado para nós e com certeza voltaremos, pois a vontade de explorar essas montanhas que são clássicos do montanhismo brasileiro, só aumentou, e chegamos a prometer um projeto: as 10+. Que já temos 1/10.......
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Camping e pousada dos Lírios, 6 km da entrada do parque mas com ótimo custo-benefício. |
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Alomoço de sábado sem trekking, felizes de qualquer forma. |
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