Vila Velha e Furnas do Tamanduá. Congresso de Espeleologia II

Como prometido, hora de dar continuidade à postagem "Agora é nas cavernas - Congresso de Espeleologia I".

Pra quem não leu a parte I, estou fazendo o relato da minha participação no  "31º Congresso Brasileiro de Espeleologia" (espeleologia é a ciência que estuda as cavernas e paisagens cársticas), que aconteceu entre 19 e 26 de julho em Ponta grossa-PR, no Câmpus Uvaranas da UEPG, e no 1º post contei um pouco sobre o congresso no geral e sobre as saídas da campo no Buraco do Padre e na caverna Olhos D´água. Nesse post resolvi dar um enfoque maior para a geologia do Parque Estadual de Vila Velha, por ser uma região realmente impressionante e com história que merece um maior entendimento.


A primeira saída de campo que fiz no Congresso foi para Vila Velha, o ponto turístico mais conhecido da região de Ponta Grossa, e que tem uma fama merecida. Além da beleza estética, para qualquer pessoa, que o local possui, lá também há uma enorme riqueza geológica, com suas feições e história.
A parte mais famosa do parque são as esculturas nos arenitos periglaciais chamados "Arenito Vila Velha", um relevo de morros testemunhos em ruínas, do Grupo Itararé, pertencente a bacia do Paraná no 2º Planalto paranaense, que tem aproximadamente 300 milhões de anos (Carbonífero a Permiano) e  apresentam-se hoje como esculturas de +- 30 metros de altura, moldadas por diferentes formas de erosão, e tem uma cor avermelhada devido ao cimento ferruginoso da rocha.


O principal símbolo de Vila Velha é "a taça", as formas peculiares dos arenitos são reconhecidas popularmente pelas formas imagináveis, como: garrafa, esfinge, camelo, cidade ciclópica  etc. Os arenitos cupam uma grande área no parque que tem 3.122 ha, e são resultado de densos fluxos gravitacionais de bases de geleiras e com influências hidrodinâmica de ambientes rasos e marés. O principal agente erosivo é a água pluvial, sendo intensificado por intemperismo de organismos e ação solar. A erosão mecânica causada pelas águas, junto com a dissolução do cimento da rocha, no topo dos platôs, forma os chamados "lapiés", esses recortes no topo das esculturas.

Topo dos morros testemunhos recortado, lapiés.

 Essas mesma ações nos paredões formam reentrâncias que isolam torres com topos alargados. Ocorre também a chamada erosão alveolar, causada pela água que dissolve certos componentes da rocha e forma espécies de buracos na rocha, os alvéolos.


intemperismo alveolar

As diferenças de textura e cimentação na rocha, e a ressurgência de águas de infiltração,  fazem com que o intemperismo e  a erosão ocorram de forma diferente nos setores das rochas, é a chamada erosão diferencial de estratos menos resistentes, causando as formas esculturais côncavas.



Depressão coberta por vegetação é um dique de diabásio erodido.

Além dos arenitos, no Parque Estadual de Vila Velha também estão presentes as furnas e a Lagoa Dourada. Estão presentes no parque 4 furnas, só duas recebem visitação, uma delas tem até um elevador que levaria os visitantes ao interior da cratera, mas este está desativado há +- 10 anos por estar em condições impróprias e de risco. Essas furnas tem de 75 a 100 metros de diâmetro e profundidades de 20 até 100 metros, tomadas por água até aproximadamente sua metade. São uma visão impressionante, ainda mais com a água entre verde e azul forte que as preenche. As furnas são todas ligadas pelas mesmas águas subterrâneas, uma ligação de 3 km, assim como  a Lagoa Dourada, que fica, de fato, dourada com o reflexo do sol na água da lagoa com fundo revestido por micas. 


Nas duas acima, uma das furnas, com elevador desativado.
Lagoa Dourada acima.

O Parque recebe cerca de 200mil visitantes por ano e por esse alto fluxo turístico, conta hoje com uma grande infraestrutura para visitação, visando preservar a área. 

Outra saída de campo que participei foi para as Furnas do Tamanduá 1 e 2. Essa saída foi muito legal pelas paisagens da região, com um relevo plano contrastando com as crateras das Furnas, que  são realmente impressionantes, e pode-se orservar diferenças no fraturamento, e dobras nas rochas das furnas. Elas se localizam em Balsa Nova- PR, e são resultado da erosão do arenito, e não do embasamento carbonático.

 Furna do Tamanduá 1


Furna do Tamanduá 2

Durante a caminhada entre as furnas observa-se no terreno arenítico várias dobras evidentes nas camadas bem marcadas e coloridas dos afloramentos.






 Também estramos em um clube, com uma cachoeira de origem artificial e entramos em uma pequena gruta, onde finalmente consegui ver os morcegos! Só pena, não consegui boas fotos... 



Indico a todos esses pontos turísticos, que são realmente muito belos, para quem é das ciências da Terra ou não. Dica universal, explorem o que está a nossa volta!

Referência para informações sobre Vila Velha de Mario Sérgio de Melo, Élvio Pinto Bossetti, Luiz Carlos Godoy e Fernando Pilatti. "Sítios geológicos e paleontológicos do Brasil - 029 - VILA VELHA"
© Melo,M.S.; Bosetti,E.P.; Godoy,L.C.; Pilatti,F. 1999. Vila Velha. In: Schobbenhaus,C.; Campos,D.A.; Queiroz,E.T.; Winge,M.; Berbert-Born,M. (Edit.) Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil. Publicado na Internet em 18/11/1999 no endereço http://www.unb.br/ig/sigep/sitio029/sitio029.htm 

Fotos: Veleda Astarte

Comments

  1. Veleda,

    Muito linda a foto da cerca de arame e a da capelinha,

    Parabéns!

    Nilson Soares

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  2. Beautiful landscape, i like pictures !

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  3. amei gostou muito deste tipo de aventura,vou marcar visita um dia desse grata pela informação detalhada

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